"Saímos atrasados de Buenos Aires. O motivo, confirmado somente por comentários, seria uma zona de zona de turbulência na cordilheira dos Andes, pelo qual o avião teve que passar ao vir de Santiago do Chile. Aproximadamente meia hora antes da chegada a Porto Alegre, no início dos trabalhos para a aterrissagem, começamos a sentir fortes balanços. Até aí tudo bem. Estavam fortes, mas sem maiores preocupações. Isto, contudo, até o momento em que um raio teria atingido a aeronave. Uma senhora gritou, ficou muito nervosa e relatou que sentiu um calor forte. Ela estava numa poltrona da janela mais ao fundo do avião. Todos os passageiros, inclusive eu, levaram um susto muito grande com o estouro do raio. Pensei que tinha partido algo no avião. A partir deste momento foi um desespero total. A turbulência aumentou, não tínhamos nenhuma visibilidade e a aeronave descia muito rapidamente. Foram momentos de muita apreensão.
Próximo da pista tínhamos a certeza que não havia como aterrissar. Estávamos com uma velocidade muito alta, se via a pista com muita água e vínhamos como uma cobra, afinal o avião balançava para todos os lados pelo vento. Tínhamos a certeza que o piloto [Dickson Armando Ferreira] estava tendo muita dificuldade para controlar o avião. Em cima da pista o comandante resolveu arremeter. E por duas vezes. O maior susto foi na primeira. Foi uma ação muito forte. Muitos passageiros ficaram bem nervosos. Uma menina passava mal. Outros choravam. Foram uns dez minutos, mas os mais longos que até hoje passei. Sentimos que o comandante fez a manobra correta. Ele nos informava de tudo que estava acontecendo. Já no momento do raio o comandante informou que não teve problemas, que é normal, etc... Deve ser alguém com muita experiência. Demonstrava tranquilidade, mas na tripulação notávamos que alguns estavam bem apreensivos, tanto que uma das aeromoças, acredito, foi tirada do trabalho pois estava muito nervosa.
Quando chegamos a Florianópolis o comandante nos informou que retornaríamos sem problemas, o que realmente aconteceu. Como não era possível descer, por ser um vôo internacional, as pessoas caminhavam no corredor. Foi quando apareceu o comandante para explicar o que havia ocorrido. Sentenciou o piloto: "É melhor chegar atrasado nesta vida do que adiantado na outra". Foi muito aplaudido. Ao chegar em Porto Alegre, em segurança, às três da manhã, mais aplausos a bordo do dramático vôo 7459 da Gol". (O depoimento é do empresário porto-alegrense Gilmar Machado, exclusivamente escrito para o Blog da MetSul, relatando as tentativas de pouso sob mau tempo no Aeroporto Salgado Filho no começo da madrugada de terça-feira)
Autor: Alexandre Amaral de Aguiar
Publicado em 09/07/2009 00:25